8 de julho de 2010

Hoje Sou Prosa

Hoje sou amargura, sou prosa, sou dor, sou fel.
Hoje nem quero ser poesia, hoje não quero ser fiel.
E se as palavras encostam, e acabam com o mesmo som,
Não é porque as pessoas gostam, não é porque tenho um dom.

Estou habituado assim,
Mas isto vai acabar,
A poesia foge de mim,
E eu não a quero agarrar.

Ela que siga o seu caminho,
Estou muito bem sozinho,
Quem é que precisa de versos?


Quem é que precisa de quadras? Ou de palavras bonitas, mentiras embelezadas…
Palavras juntam à força!
Palavras juntam que mal se conhecem, tudo para forçar uma rima.
As frases postas em versos, agrupadas num número certo de linhas?

Não.


Agora chega! Não quero!
Já não quero ser belo,
Já não quero ser poema,
E acho que nunca quis sê-lo.

Quem queria não era eu,
Era o hábito, não a razão,
Mas foi assim que aconteceu,
Por pensar com o coração.

Agora escrevo-me como quiser,
E não quero ser obra grandiosa,
Não quero ser homem ou mulher,
Hoje, só quero ser prosa.

7 de julho de 2010

Quatro Quadras e um Quase

Rima certa, cruzada,

Prefeita, com disciplina,

Poesia esperta, controlada,

Rima cuidada, de menina.

Não é orgulho, nem altivez,

São só uns verso cuidados,

Não é barulho, é o que vês,

Uns meros versos cruzados.

E se às vezes o coração pede,

Para que escrevas o sentes,

Para, pensa, mede,

Se for preciso, mentes.

O que importa é a mestria,

O aspecto, a imagem,

Mestria rima com tia,

E logo pensas na mensagem.

E assim se fazem versos,

Assim brinco aos poetas,

São pensamentos dispersos,

Mas rimam! (Quase todos)

Enquanto esperava

-Ate já, disse.

Silêncio…

A espera foi longa, o pensamento voou, até se encher de novas coisas.

Ficou tão cheio, que tinha de partilhar, mas o até já não chegava e o pensamento mais voava e se enchia à medida que percebia que o até já tinha sido um adeus.

Adeus desinteressado, amargo, que nem sabia ainda o que era.

Nem sabia, nem nunca chegou a saber, tal a atenção e interesse.

É isso o que mais custa, porque um adeus consciente tenta sempre ser mais doce.

Já nem pedia um adeus doce inconsciente. O mais valioso deles.

Já só pedia a consciência para o adeus, para que pode-se ser consciente para mim também, para que não me deixa-se enganar a mim próprio, e fingir que tinha sido um até já.

Disse.

Gastas Palavras

Já gastei todas as palavras,

Falei de tudo e fiquei vazio,

Já disse tudo, tudo o que pensava,

Eu disse tudo mas ninguém me ouviu.

Palavras vãs, deitadas ao vento,

Que ninguém sabe, ninguém ouviu,

Ficam pra trás, perdidas no tempo,

Falei de tudo e fiquei vazio.

Ninguém ouvia então eu escrevi,

E partilhei tudo o que era meu,

Palavras escritas que só eu as li,

Escrevias todas mas ninguém as leu.

Escrevi em papel, escrevi no vento,

Escrevi as estrelas pra toda gente ler,

Palavras vãs perdidas no tempo,

Mesmo nas estrelas ninguém as foi ver.

Ninguém as viu então eu cantei,

Cantei-as alto prar se escutar,

Também foi vã a voz que eu gastei,

Porque ninguém ouviu o meu cantar.

Ninguém me ouvia, então pus aqui,

Estas palavras para tu as veres,

Palavras vãs foi o que eu escrevi,

Até ao dia em que tu as leres.

6 de julho de 2010

Flor Bela

Tenho sede de infinito,
Quero ser poeta, quero ser escritor,
Quero ser riso e quero ser grito,
Quero ser guerra e amor.

Ser o que me for na alma,
Poder ter várias interpretações,
Quero ser cosmos e quero ser calma,
Ou ser letra de belas canções.

Quero ser poesia, quero encantar,
Que me declamem bem alto!
Quero ser importante, contar,
Que percebam a falta quando eu falto.

E quando faltar a poesia,
E me faltar a inspiração,
Que esperem até ao outro dia,
Trocada e esquecida é que não!

Deixem-me ser vosso poema,
Digam que gostam de me ler,
E finjam que valeu a pena,
E ninguém precisa de saber….
E quero que me ames assim,
Perdidamente!
Quero ser alma e sangue e vida em ti,
E que o digas cantando a toda gente!

(uma espécie de homenagem a Florbela Espanca)

Carta do Novo Rei

Soldado que marchas em frente,
Onde fica o teu destino?
Onde esta o teu castelo?
Volta a ser um menino!

Deixa a espada, deserta,
Foge pra outro lugar,
Ruma para parte incerta,
Que ninguém te vai encontrar.

Depois, quando for dia,
Faz-te de nova à estrada,
Esquece a tua companhia,
Que eles nem vão dar por nada!

Esta luta não é tua,
Poupa o sangue que é teu,
Cada um que lute a sua,
Ou não luta, como eu.

Esquece a tua bandeira,
A pátria não é a razão,
Quer o rei queira ou não queira,
Não és apenas uma mão.

És um homem como ele,
E também pensas por ti,
Também tens carne osso e pele,
Pois foi assim que te escrevi.

Fui eu quem te dei vida,
Ó soldado da minha cabeça,
És a parte de um poema,
Ou o que eu quiser que isto pareça.

Por isso ouve o que te digo,
Escuta o teu criador,
Soldado que marchas em frente,
Marcha para trás, por favor.

Escultura

Isto é uma escultura:

Quero escrever e não tenho o quê. Não tenho assunto, mas tem de ser. Se não escrevo rebento, se não falo com o papel… tem de ser, estrago esta folha!

Será que se não escrevesse, deixa-se esta folha em branco e lhe chamasse de poema seria uma obra de arte? E assim?… Pois, assim não, assim sou só uma folha com linhas. E já existem tantas… Olha, sou mais uma!

Então já sei! Não vou ser um poema! Não vou ser verso nem prosa, nem vou ser uma folha sequer, vou dizer que sou uma escultura! Assim já sou original.

Vou ser uma escultura! Vou ter a forma de uma folha, e ser pintada com letras, até posso parecer só um papel. Mas não sou! E sempre ouvi dizer que ninguém melhor que nós próprios para poder dizer o que somos, dizer quem somos. Se digo que sou uma escultura, quem me dirá o contrario?

Sou uma escultura e das valiosas, porque sou original. Não sou um busto nem estátua, nem nada que se pareça. Sou a primeira com esta forma! Fui "esculpida por um poeta"! Haverá sempre quem diga antes que fui "escrita por um idiota", mas eu é que sei!

Se quisesse, podia ser uma pintura num quadro, ou uma fotografia. Podia ser a letra de uma canção. Até podia ser um filme! A imagem era eu, o som podia ser alguém a ler estas palavras de forma profunda, fazendas soar bem, para parecer que tinham sido escritas com cuidado e mestria.

Mas não! Não sou nada disso! Eu sou uma escultura!

Reparem nas minhas formas, no desenho que estas linhas fazem! Pode parecer acaso, mas não, sou mesmo uma escultura. Fico bem em qualquer sala, em qualquer museu. As pessoas vão comentar-me admirar a minha originalidade, e algumas, as mais idiotas de todas, vão dizer:

-É a mais bela escultura que já vi.

Amargo

Olá, sou um poema,
Pelo menos tento ser,
Hoje sou mais um problema,
De quem me está a escrever.

Eu que já fui poesia,
Já tive beleza em mim,
Já fui letra de alegria,
Hoje, sou só assim.

Ontem fui escrito doce,
Hoje só tenho amargura,
Procurando nas minhas linhas,
Uma réstia de doçura.

Mas ela não aparece,
É difícil de encontrar,
Minha beleza empobrece,
E já mal consigo rimar.

Sinto-me fraco, feio,
Um poema sem razão,
Desisto, morro!

Rimem vocês!


Ontem fui poema,
Afinal não valeu a pena,
Queria continuar a sê-lo
Mas perdi a minha rima.

Doce

Já me perdi nas ondas
E mares do teu cabelo
No teu cheiro de baunilha
Com um toque de caramelo.

Teu riso de menina
Teu olhar de mulher
Recordação doce
Que jamais irei esquecer.

O teu sabor de açúcar
E a tua voz de mel
Já me perdi no veludo
Do toque da tua pele

Teu riso de menina
Teu olhar de mulher
Recordação doce
Que jamais irei esquecer

Atravesso as ondas
Na minha imaginação
Pra me encontrar contigo
E Segurar a tua mão

Teu riso de menina
Teu olhar de mulher
Recordação doce
Que jamais irei esquecer

Depois a saudade
Dá lugar à alegria
Como foi tão bom
Ter tido a tua companhia

Teu riso de menina
Teu olhar de mulher
Recordação doce
Que jamais irei esquecer

Rota

Caravela, barcaça, falua,

Para onde rumas, para onde vais?

Andas ao sabor da lua,

Ou é o vento quem manda mais?

E tu, para onde queres ir?

Pra que mares não navegados?

Que terra queres descobrir?

Que tesouros não encontrados?

Caravela, falua barcaça,

Como é forte, e como é bela,

Deslumbra todos por onde passa,

Falua, barcaça, caravela.

Esquece o vento, pensa em ti,

Usa remos, não sabes nadar?

Se és caravela barcaça ou falua,

Foste feita pra andar no mar!

Caravela, barcaça, falua,

Lança a âncora, não te deixes levar,

Se esta viagem não é a tua,

Então mais vale naufragar.

Caravela, falua, barcaça,

Esquece o vento, esquece a lua,

Segue o mar que te abraça,

Caravela, barcaça, falua.