6 de julho de 2010

Escultura

Isto é uma escultura:

Quero escrever e não tenho o quê. Não tenho assunto, mas tem de ser. Se não escrevo rebento, se não falo com o papel… tem de ser, estrago esta folha!

Será que se não escrevesse, deixa-se esta folha em branco e lhe chamasse de poema seria uma obra de arte? E assim?… Pois, assim não, assim sou só uma folha com linhas. E já existem tantas… Olha, sou mais uma!

Então já sei! Não vou ser um poema! Não vou ser verso nem prosa, nem vou ser uma folha sequer, vou dizer que sou uma escultura! Assim já sou original.

Vou ser uma escultura! Vou ter a forma de uma folha, e ser pintada com letras, até posso parecer só um papel. Mas não sou! E sempre ouvi dizer que ninguém melhor que nós próprios para poder dizer o que somos, dizer quem somos. Se digo que sou uma escultura, quem me dirá o contrario?

Sou uma escultura e das valiosas, porque sou original. Não sou um busto nem estátua, nem nada que se pareça. Sou a primeira com esta forma! Fui "esculpida por um poeta"! Haverá sempre quem diga antes que fui "escrita por um idiota", mas eu é que sei!

Se quisesse, podia ser uma pintura num quadro, ou uma fotografia. Podia ser a letra de uma canção. Até podia ser um filme! A imagem era eu, o som podia ser alguém a ler estas palavras de forma profunda, fazendas soar bem, para parecer que tinham sido escritas com cuidado e mestria.

Mas não! Não sou nada disso! Eu sou uma escultura!

Reparem nas minhas formas, no desenho que estas linhas fazem! Pode parecer acaso, mas não, sou mesmo uma escultura. Fico bem em qualquer sala, em qualquer museu. As pessoas vão comentar-me admirar a minha originalidade, e algumas, as mais idiotas de todas, vão dizer:

-É a mais bela escultura que já vi.

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